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Querido Amigo

Meu querido amigo,

Antes de mais, quero que percebas que, o que vou partilhar contigo, são somente devaneios e reflexões de uma mulher que não faz muito mais que isso. Não é nenhuma verdade absoluta, e nem sei se, verdade é. Sei, que o pensei e considerei, e achei que de alguma forma, para mim, fazia sentido. Também achei, que o devia partilhar contigo. Não só, pela tua condição de cego, mas também pela minha, de normovisual.

Deves estar expectante depois de tanto parlapier, nada de mais...

Sabes que eu ouço mal desde criança, e à medida que vou passando pela vida, a audição tem piorado. Como sabes também, sou uma pessoa com sinusite crónica e rinite alérgica, o que faz com que o olfato, para mim, só ocorra e seja identificável em ocasiões muito escassas, bem, como o paladar.

Caro amigo, dos sete sentidos, o que realmente tenho de mais apurado, é a visão, e por incrível que pareça, o mais falacioso. Sabes porquê? Porque nos deslumbramos tão facilmente, com a suposta beleza da suposta perfeição, quer da natureza natural, quer da natureza da humanidade. Depois, sobram todos aqueles que não encaixam nesse estereotipo.

E esses são todos aqueles em que descarregamos os nossos medos, as nossas frustrações, os nossos egos, a nossa altivez, os nossos ódios, as nossas invejas e tanto de tanta maldade que a humanidade é capaz.

Então ocorrei-me, que se fossemos todos cegos, e se o paladar funcionasse, o olfato e a audição, no meu caso em concreto, que faço parte da humanidade, se calhar seria uma pessoa melhor. Poderia assim, desfrutar dos sabores das maravilhosas iguarias que me passam pelo palato, dos cheiros que existem tão agradáveis, mas acima de tudo, poderia ouvir melhor e quem sabe, poderia ser mais amável, menos crítica, menos julgadora, pelo simples facto de não olhar e ver, apenas ouvir o que de, eventualmente, as pessoas têm de melhor e pior, sem contudo, estar permeável à suposta beleza ou à falta dela.

Se bem te conheço estarás a pensar “percebe-se que não sabes do que falas. Não sabes o que é viver na escuridão, vivermos num mundo feito e criado para os supostos normais.”

Sim, não sei o que é ser cego, mas sei o que é ser mouca, disgeusia e anosmia, e como tu, sei que realmente o mundo não foi feito para a diversidade, foi feito para os estereótipos: beleza juventude, saúde e força. Depois existem alguns apêndices desses estereótipos.

Enfim,



o que te queria dizer mesmo, é que cada vez mais, a diversidade, para mim, é colorida, rica, tem essência, criatividade, tem amor, empatia e inteligência.

Desejo-te um novo ano cheio de aventuras, amor e saúde, meu amigo!!

 

 

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