top of page

O Suicídio

Atualizado: 28 de dez. de 2023

Toda a gente, ou quase, têm explicações para tudo o que é tragédia, ou fenómeno, ou qualquer outra coisa que saia daquilo que convenientemente se chama “normalidade”.

Li apenas o cabeçalho de um jornal que esqueci, (que para mim nesta fase da vida é super fácil) mas o cerne da questão era, ter-se sobrevivido a um suicídio.

Esperava ler o resto mais tarde, contudo, não o encontrei.

Já sobrevivi a 2 tentativas (melhor 1 e ½, a penúltima foi uma tentativa, mas acobardei-me e, nem possuindo as ferramentas, me esforcei)

Já tive uma 3ª e desta vez como da 1ª sobrevivi...

É tão penoso... tudo que se segue... ou melhor é um pouco mais do mesmo.

Mas porquê? E então os seus filhos? E os seus netos? E as pessoas que gostam de si? E então tem isto, aquilo e aquele outro... Credo!



O que me leva a desistir? Nem eu sei bem.... Sei que não sou feliz nem esperava ser. Mas ter mais momentos bons que maus...

Não é só... É uma dor constante que dilacera a alma, todos os dias, sem pausa...

Sei que uma das razões fortes, foi ter perdido a fé, que me trazia objetivos, motivação, aconchego e, razão. Foi quando percebi que na realidade, nada disto fazia sentido nenhum. Existir um ser superior, à nossa imagem e semelhança, omnipresente, omnipotente, e que nos ouvia a cada um de nós'? Hoje penso como é possível acreditar nisso? Curiosamente tenho falado com alguns jovens, para meu espanto, ou talvez não, eles fazem o percurso inverso: primeiro não acreditavam e agora acreditam. Tenho que admitir, que de repente senti-me perdida, total e completamente.

Quanto a mim, depois de um grande vazio e solidão, procurei focar-me nas pessoas e na humanidade. Essa fé rapidamente se esvaiu.

Os homens são maus, extremamente egocêntricos, com uma sede de poder enorme, capazes das maiores atrocidades, enfim...

Por outro lado, há aqueles rapazes (mulheres e homens) capazes dos maiores feitos, o problema é que gente boa, falha pela falta de ambição, pelo desapego às coisas e acabam sempre por perder. Porque esta coisa a que se chama vida é um jogo. Eu não o sei jogar, nem quero.

Outros gostariam de saber, mas não conseguem.

Depois há uma infinidade de grandes jogadores: os bons, os muito bons, os excelentes, e finalmente, aqueles que só jogam para vencer (vale tudo)

Eu já não sei ao que me agarrar, e o amor que sinto pelos meus filhos e netos, não é suficiente...

Porquê? Não sei. Sei que existindo ou não, os faço sofrer... Provavelmente porque também não sabem como agir, o que sentir... enfim também eles se sentem perdidos.

O desejo de morrer é egoísta, por um lado, porque tem a ver com essa coisa “já não sirvo para nada e apenas daqui para a frente vai ser um compasso de espera, coitadinha de mim”, outras vezes “o mundo é uma merda e isto vai rebentar a qualquer momento, e eu não tenho como fazer isso não acontecer” ou “estou muito cansada de tentar sobreviver, gostava de conseguir viver e ao fim deste tempo todo, não o consigo fazer” e provavelmente com outras coisas que desconheço...

Mas é ainda mais egoísta, pelo facto de haver pessoas que querem tanto viver, e a morte vem buscá-las, mesmo assim.

Quando leio uma notícia de um jovem de 23 anos, blogger, com um carcinoma, e que através da sua capacidade de acreditar, e ser alguém extraordinário, influenciou outros positivamente, morre, penso que a minha atitude é do mais obsceno que existe. Não é justo que um miúdo com tanto para dar morra, e eu que nada tenho e nem valorizo o que tenho, me mantenha aqui.

Deus? Deixou de existir há tanto tempo... que falta me faz a fé, fosse ela donde fosse. Mas foi-se total e completamente. Que falta me faz!

Amo os meus filhos, sempre amei, e disso, para além da morte, é a única certeza que tenho. E agora os meus netos, que me trouxeram esse amor mais descontraído, mais livre, mais criativo... mas o cansaço... A vida sempre em fase descendente... não há luta que resista... Nada muda e tudo se desvaloriza... Até a vida.

Como se sobrevive???





15 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page