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A última caminhada

Foto do escritor: Mariana SelasMariana Selas

Atualizado: 29 de dez. de 2024

Hoje faço 61 anos. A minha irmã, mais nova 3 anos, teria feito 58 há 4 dias atrás, se não tivesse morrido.

Nestes momentos, é quase instantâneo, voltar ao tempo da minha primeira família: os meus pais e irmãos, e por arrasto primos e tios.

Recordo-me desse tempo como uma doce e maravilhosa lembrança. Como qualquer momento da vida, há momentos melhores e momentos menos bons. Mas na verdade, o que me atrai a  esse tempo, e revivê-la, era a irresponsabilidade que me era permitida e a liberdade, porque afinal, era uma criança. Tive essa sorte, há quem não a tenha.

Também tenho muitas saudades da relação com os meus irmãos, que se deteriorou  substancialmente, à medida que entramos no mundo dos adultos, e nunca mais recuperou.

Havia na minha família, uma capacidade de gozo, de humor, bastante interessante e diferente. O meu pai tinha um sentido de humor, direi prático, e de quando em onde, surpreendia-nos numa conversa normal, pegar numa frase e transformá-la em algo cómico.

A minha mãe era mais nas situações de confusão em que se metia, um pouco talvez, por alguma ingenuidade, e incapacidade de ver, o que estava por trás das coisas.

Eu, creio poder dizer, que herdei um pouco do humor de cada um deles.

Mas, quem na verdade tinha um sentido de humor maravilhoso e era capaz de imitar quase toda a gente, era a minha irmã mais nova. Infelizmente ao longo da vida perdeu-o, não direi completamente, mas muito dele transformou-se em ressentimento, por força de situações que me são alheias e a ela também, de alguma forma..

O meu irmão, mantinha de vez em quando o humor, mas tanto ele como eu, casamos, e quer queiramos ou não, isso muda-nos.

Hoje, olho para trás com saudade e muito carinho, e por vezes gostava de lhes dizer isto, se bem que acredito, que não faria diferença nenhuma.

Agora, tenho filhos e netos e a responsabilidade de ser adulta, sem liberdade e cometendo muitos erros que não poderei emendar. 

Não me posso aninhar junto da minha mãe, ou até brincando com as minhas irmãs para esquecer os erros ou o sofrimento.

Hoje, não posso parar. Tenho que seguir em frente, nesta última caminhada, sozinha e de cabeça levantada, enquanto a puder segurar.

A vida é algo muito estranho!






 
 
 

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