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A vida é...

Atualizado: 6 de nov. de 2023

É curioso como os pensamentos surgem do nada, e de repente, estamos a pensar naquilo que já devia estar para trás e não nos surgir no pensamento: o passado, ou melhor, parte dele.

Estava a pensar que se o meu pai fosse menos acomodado e …., os meus pais nunca teriam ido para um lar tão cedo. O meu pai estava bem, física e psicologicamente, aparentemente, mas não estava para se chatear. Não estou a acusá-lo, apenas a constatar um facto. Quando a minha mãe desapareceu de noite, e só de manhã o meu pai deu o alerta, foi percetível que não estava para se chatear. Telefonou ao filho mais velho, e este, que tratasse de resolver esta questão.



Se ele assumisse a responsabilidade pela minha mãe, que tinha demência vascular, não teriam que ter ido tão cedo para um lar. Mas ele gostava de não ter que se preocupar com nada. Comida e roupa lavada chegavam perfeitamente, pelo menos era a crença da minha mãe que hoje, acredito, tinha razão. Ele gostava da minha mãe, mas de uma forma peculiar, que lhe tinha sido transmitida pela educação e pelas pessoas com quem conviveu desde jovem, e infelizmente, não sendo burro, era de alguma forma preguiçoso e acomodado. São pelos vistos, as heranças geracionais.

Todos temos essas heranças, mas uns decidem lutar contra, se as consideram erradas, outros consideram que é o que é. Eu, tenho “obviamente” a herança da minha mãe, dado que foi ela que nos educou, melhor ou pior, mas sempre sozinha.

Neste momento, estou bem com isso. Os meus pais tinham mais diferenças do que coisas em comum. A vida é o que é. Custou-me uma vida inteira, interiorizar esta máxima.

Curiosamente, ou não, eu fiz o mesmo que a minha mãe, mas já numa época diferente.

Casei com um homem com o qual nada tinha em comum, e, embora muita gente me tenha dito isso, não acreditei.

Ainda hoje vivo demasiada amargurada por tão grande erro, e pela forma como a vida se encarrega de nos “castigar”.

Tenho muita gente a criticar-me, apontar defeitos, e não me estou a queixar, até porque a maioria são verdade. Obviamente que a educação que a minha mãe me deu, foi sem dúvida “out of the box” o que, para aquele tempo, era extraordinário, e ainda neste, é-o também.

Não tenho a veleidade de achar que posso ser perfeita ( que não existe), nem a super mulher, nem uma pessoa que não cometa erros. Contudo, espero ser capaz de aceitar as críticas que me fazem e tentar mudar de direção. O que gostaria era que os meus filhos lem-se estes pensamentos e, pudessem também eles ir mudando algumas heranças, menos positivas, geracionais.

Como não quero cometer constantemente os mesmos erros, acabo por me isolar mais, porque acho que já vou um pouco tarde, e nem sei se consigo. A vida tem coisas boas e eu gostava só de ver essas, e não ver nem sentir as outras, mas a coisa não funciona assim…

Está visto que é aprender até morrer, e mesmo assim morremos sem nada saber.

Outro problema de que sofro, e segundo o meu psiquiatra, é que desenvolvi uma estratégia para não sofrer mais do que sofro. A minha memória guardou algures no meu cérebro determinadas memórias que me fazem sofrer. Pior é que não me lembro daquelas que fiz sofrer. Ao conversar com os meus filhos e falando com eles, de algumas atitudes que tive, e que os magoaram, não me lembro. Isso para mim já é demais. Não importa as condições em que as vivi, importa apenas que eles não tinham culpa nenhuma.

Sinto-me tão estúpida, tão má, e pior, nem me lembro...Isto não é normal.


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