Posso dizer que não me lembro de, em nenhum momento da minha vida, ter planeado nada. Foi, um.... deixa acontecer. Talvez, porque também percebi, cedo, que nada saía como eu imaginava. Provavelmente, porque muito mais que planear, se calhar, idealizava.
Adiante, fosse qual fosse a razão, a minha vida deixou de estar sujeita a planeamentos.
Posso dizer que nunca imaginei, muito menos planeei, casar, até ao momento em que o fiz. O plano? Os pais tratavam do evento e depois logo se via como corria.
O mesmo aconteceu com os filhos. Planeados? Acordou-se em ter filhos, ao fim de pouco mais de um ano de casada decidimos que era altura, porquê não sei. Assim aconteceu.

Tive o meu primeiro filho. Uma menina, que amei ainda antes de nascer, e que sofri depois, porque duvidei se seria capaz de a proteger, e ser a mãe que ela precisava. Nunca imaginei, como estas minhas dúvidas se iriam materializar, em feridas profundas, que sangrariam constantemente, e desde esse momento nunca mais parariam.
Essas dúvidas, que quase todas temos quando estamos perante o primeiro filho, assolaram-me novamente, quando engravidei do segundo e soube que iria ser um rapaz. Será que vou amá-lo como a amo a ela? Será que saberei lidar com ele?
Nem eu imaginava como, mais uma vez, estas dúvidas se iriam materializar da mesma forma.
Não foi um casamento feliz, porque, num país como o nosso em que se vive para trabalhar, e a qualidade de vida será qualquer coisa que nos poderá sair na sorte, o meu não foi diferente. Acresce ainda, o facto de se terem unido pessoas que, não poderiam ser mais diferentes. E os tempos de casamento foram mostrando isso. E a suposta convergência e cumplicidade, deu lugar ao silêncio e ao isolamento, mas ainda assim engravidei de um terceiro filho. Foi aqui, que percebi que não valia a pena perpetuar mais uma péssima história de “amor”.
Pedi o divórcio. Não planeei. Não pesei os prós, e contras. Apenas sabia que não queria viver do jeito que vivia, o resto da minha vida. Não pensei no peso que esta decisão teria nos meus filhos, ou melhor, pensei que seria capaz de dar conta do recado, e, que no fundo, seria melhor para todos. Contudo, só me apercebi que, não só, não me tinha divorciado de uma pessoa, mas de várias. De amigos e. dos pais dele, que neste caso, eram as pessoas que me ajudavam.
Acabei por ser criticada por mais pessoas do que poderia imaginar, e senti-me não só devastada, como completamente sozinha.
Pensei que, fosse qual fosse a decisão, teria custos. Estes, eram os que teria que pagar.
Nem eu imaginava como estava longe do quanto teria que pagar, por ser imperfeita, não ser omnipresente, omnipotente...
Não quero dizer com isto que não errei. Se errei!
Não sei como sentir, viver e estar nesta culpa que me envolve e não me larga.
Já não sei mais quem sou… nunca soube muito bem. Fui filha, irmã, mãe e em todos os papéis falhei brutalmente. Agora sou avó, penso que não saberei o resultado e ainda bem.
O que nunca fui: mulher. Não tive tempo.
E agora? Vou vivendo momentos de avó que me preenchem, como me preencherem os de mãe, mas, com a vantagem de viver sem a responsabilidade de disciplinar, de permanência, de omnipresença, omnipotência.
A de mulher? Penso que nem que houvesse mais vidas a viver…
E num exercício de erradicar pecados, apercebo-me que até as minhas memórias são falsas, ou pelo menos são diferentes, bastante, daqueles que supostamente as partilharam.
Todo este percurso desalinhado, não planeado e não pensado, tem-me levado a pagar uma fatura de valores extremamente altos.
Não estou a choramingar pela minha “pobre” vida e pelas injustiças da mesma, que infelizmente, há e sempre haverá, tanta gente tão pior do que eu… As coisas são o que são.
Também tenho os meus momentos de graças. Estou simplesmente a chegar a alguns resultados.
Sei com certeza que fui e sou uma mulher com sorte. Tive 3 filhos sãos e inteligentes.
Pude sentir o estar grávida, que para mim foi das poucas coisas que desejei, já que era algo único e só possível às mulheres. É uma sensação indescritível e eu pude senti-la 3 vezes. Sentir o amor único e o medo terrível por ser responsável por um ser. Vê-los crescer, obrigando-me a crescer com eles. E agora.... ser avó. Outra maravilha da natureza. Enfim tem sido um percurso q.b. extraordinário, pelo que por aí, me poderei sentir uma mulher com sorte.
Posso ser positiva… às vezes!
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