di·vór·ci·o
(latim divortium, -ii)
nome masculino
1. Separação de cônjuges por meio de dissolução judicial do matrimónio.
2. [Figurado] Separação; desacordo; rompimento, quebra (de laços de amizade, etc.).
"divórcio", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/div%C3%B3rcio [consultado em 20-03-2022].

Qualquer desacordo, rompimento ou quebra tem sempre aspetos negativos.
Como em tudo, poderá ter alguns positivos. Por exemplo: quebrei aquela jarra, que achava tão feia, e que tinha sido dada pelo meu primo Artur, pelo que por respeito a ele, a tinha ali, naquele móvel. Portanto, a sua quebra não foi, para mim, nada desagradável, mas quando falei ao Artur o que acontecera, e que não tinha hipóteses de a colar e ficar mais ou menos, ele ficou um pouco triste... mas passou.
Acontece o mesmo com as pessoas quanto à quebra das relações, o chamado divórcio.
Claro que não com esta ligeireza, nem com sentimentos tão leves e fáceis de ultrapassar, pelo menos para algumas pessoas, independentemente do género.
Falo deste assunto, porque embora esteja divorciada há 22 anos e ainda não tenha 60, sinto que hoje, as pessoas falam muito e, cada vez mais existem divórcios numa altura da vida em que supostamente, não se gostaria de estar sozinha/o.
Não me admira.
Quando tudo aquilo que nos domina, nos obriga a andar a 500 à hora, durante mais de metade da nossa vida: trabalho, filhos, pais, restante família e casamento, de repente pára, e deixamos de andar a 500 para andar a 60, em que o assoberbamento se esvazia, algo nos acontece.
No trabalho somos dinossauros, e como tal sem grande valor para se investir, os filhos abrem asas e voam, os pais morrem e nós... passamos a um outro patamar. Então ficamos ali 2 pessoas desconhecidas, sem saber o que dizer um ao outro, com expectativas diferentes daquilo que resta da vida. Só porque o tempo, a vida que vivemos e a estupidez social, não nos deixou ter tempo para pararmos, falarmos e tentarmo-nos conhecer nesse caminho que “aparentemente” partilhamos. O mais provável é não aguentarmos estar um ao pé do outro, porque esse longo/curto caminho nos tornou uns desconhecidos. Se existe uma dependência financeira, provavelmente aguentaremos, se não, vai cada um para o seu lado e o divórcio ocorre.
Mas eu olho para esta gente e penso (como não podia deixar de ser, e me vitimizar) que eles, podem agora viver o que quiserem. Mas aqueles divórcios que ocorrem com os filhos pequenos e ainda jovens, parecem-me bem mais desafiantes. São as nossas emoções, as dos filhos, as dos avós e claro o trabalho, a casa, etc.... e lidarmos com tudo isso sozinhos é sem dúvida muito complexo. Vou, contudo, procurar ser imparcial: a rotura, o rompimento é sempre doloroso.
Num país em que as infraestruturas sociais de apoio, por exemplo à monoparentalidade, aos filhos que vivem nessa situação, são tão escassos, que só racionalizamos as atitudes, as decisões, as escolhas que fizemos, mais tarde quando somos confrontados com as acusações dos filhos crescidos e “marcados”, ou quando somos avós.
Aí temos que lutar com a culpa dos erros que percebemos ter cometido, e de algumas “barbaridades” que fizemos também, e cujas vítimas foram, sem dúvida, os filhos.
O que quero dizer, é que nem nesse, neste tempo, temos tempo para viver o quisermos, pois paira sempre, a sombra da imperfeição, dos erros, do que poderia ter sido evitado e por vezes as situações criadas sem solução.
Na minha perspetiva, a consciência da imperfeição, nossa claro, a incapacidade de vivermos um amor para toda a vida, como sempre nos incutiram desde pequeninos, pode por vezes levar-nos a um caminho de autodestruição, ou boicote da vida, ou apenas a deixarmos rolar.
As relações são sempre complexas e difíceis de levar a bom termo. Mas era bom que isso acontecesse não era? Conseguirmos levá-la a bom termo e sempre mais fortes?
Valha-nos o amor, esse sim, incondicional pelos filhos, e amor dos verdadeiros amigos!!
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